sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um acústico pra lá de especial

Nos tempos em que as pessoas dizem que o rock'n'roll está quase morto, e nos tempos em que a MTV domina todo e qualquer tipo de "acústico", eis que surge uma exceção à regra.

capa do Acoustic, but Plugged In! (2011), do Hangar.
Contradizendo tudo o que foi definido para a cena nacional do rock'n'roll, principalmente a quase "underground", o Hangar surpreende todos com o seu mais novo trabalho, Acoustic, but Plugged In! (2011).

Desde o início dos anos 90, bandas como o Angra faziam shows acústico, mas em mais de 20 anos de carreira eles nunca tiveram a audácia que o Hangar teve de lançar um álbum acústico. Seguindo os passos do Angra, o Hangar também realizou shows acústicos em suas turnês, e baseado nisso a banda de Aquiles Priester decidiu gravar versões acústicas das músicas que marcaram a carreira do Hangar.
Hangar (da esquerda para a direita): Eduardo Martinez, Aquiles Priester, André Leite, Nando Mello e Fábio Laguna.

Escutei ontem todo o álbum, dentre as 15 músicas, o que eu achei um exagero, existem verdadeiras obras de arte e outras músicas que não se adequaram muito bem ao acústico. Mas, as partes boas prevalecem.

Os arranjos desenvolvidos foram excelentes e a maior surpresa foi escutar as músicas mais pesadas do Hangar em uma sonoridade acústica, sem o peso. Músicas como The Reason of your Conviction e The Infallible Emperor, listadas entre as mais pesadas do Hangar, ganharam uma conotação completamente diferente no acústico, o que as deixaram com um charme a mais.

Músicas como Solitary Mind e Based on a True Story, que já são "acústicas" por natureza se adequaram bem ao álbum, assim também como Dreaming of Black Waves, apesar da voz de Humberto Sobrinho fazer falta em algumas partes, não tirando o mérito de André, de longe um grande vocalista. Mas, o grande destaque do álbum vai para a nova composição do Hangar, Haunted by your Ghosts:






Essa música foi composta especialmente para o acústico e é uma música que fica na sua cabeça assim que você a escuta. Além da sonoridade, o que me chamou a atenção na primeira vez que a escutei foi a letra. A letra traz uma mensagem positiva, algo como Time to Forget, nos falando para esquecer o passado e seguir em frente.

Concluindo a audição do álbum, saí com uma boa impressão do novo vocalista, André Leite. Primeiramente, as críticas por ele tocar em uma banda gospel não tem nenhum fundamento, isso não o impede de tocar em uma banda de heavy metal. E também, gostei do terço que ele usa no pulso direito, fica quase como uma marca registrada. Sobre a sua voz, músicas como Based on a True Story fazem os fãs sentirem falta de Humberto Sobrinho, mas isso é normal com todo novo vocalista. Tenho certeza que André fará um grande trabalho no Hangar.

Enfim, gostei muito do novo álbum do Hangar, e quem quiser adquiri-lo basta dá um pulo na DieHard, eles entregam para todo o Brasil e o preço do álbum está muito bom para a quantidade de trabalho que foi investida nele.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Os fogos de artifício

capa do Fireworks (1998).

Hoje peguei o meu Fireworks (1998), depois de uns 4 anos, e coloquei para tocar. Lembranças de uma infância muito boa vieram na minha cabeça enquanto escutava os primeiros acordes de Wings of Reality. Me lembrei do VHS que tinha de um show do Angra em Natal/RN, e me lembro do vocalista André Matos falando: "Boa noite, Natal", e do espanto de minha mãe ao escutar uma banda falando em português.

Me lembro ainda do primeiro dia em que escutei Lisbon, música que ficou na minha cabeça desde então, e ainda me lembro da emoção que foi ver ela sendo executada ao vivo no show do Shaman, no Ceará Music em 2003.

O Fireworks (1998) foi o último álbum da formação clássica do Angra, foi o fim de uma promissora era. Fase que produziu relíquias como o Angels Cry (1994) e o Holy Land (1995), donos dos maiores clássicos da banda. Após esse álbum, a banda se dividiu de forma não-amigável: os guitarristas Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro continuaram no Angra e lançaram os melhores álbuns de toda a carreira da banda: Rebirth (2002) e Temple of Shadows (2004), e os demais membros formaram o Shaman, outra grande banda, dona do Ritual (2003), um dos melhores álbuns que escutei na minha vida.

Assim como os fogos de artifício, que iluminam a noite e ficam em nossa memória, devemos trilhar o nosso caminho sem nunca deixar de lado o nosso ideal e nossos irmãos. Esses pequenos relatos servem apenas para que nós não esqueçamos quem nós somos, e melhor, para que não esqueçamos quem fomos.

Viva sempre sob as "asas da realidade" e mantenha as boas lembranças que você tem sempre em primeiro plano.






sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Letra: Resist (Rush)

Rush: Alex Lifeson (guitarra), Gedy Lee (baixo) e Neil Peart (bateria).
Quem vem aí? Isso mesmo, "A Letra" vem mais uma vez marcar sua presença aqui no Rock'N'Prosa. Hoje vamos falar sobre uma das minhas músicas favoritas do Rush, não só instrumentalmente, mas também por causa de sua letra. É, web-leitores, a coluna "A Letra" hoje conta com a presença de Resist, do álbum Test for Echo (1996). Hoje estamos contando com a participação de Thiago Costa.

Na vida temos que aprender a ser resistentes a tudo, mas sempre tem algo que consegue escapar a essa resistência. É com isso em mente que Gedy Lee & Cia. nos convida a embarcar nesse mundo imerso em pensamentos.

A letra inicia com a seguinte frase: "Eu posso aprender a resistir a tudo menos à tentação". Ou seja, sempre somos tentados a fugir do que realmente nós somos, seja por medo de enfrentar o mundo ou por influências externas, e é justamente a "tentação" que nos faz mudar de caminho. A música nos diz que além de não mudar quem nós somos, nós também não podemos mudar o mundo, ou nas palavras do Rush: "Eu posso aprender a conviver com todas as coisas que eu não posso explicar". A letra fala por si só, recomendo estritamente que vocês a leiam, e também escutem a música, vocês não se arrependerão.

O Rush é uma banda de rock progressivo do Canadá e é uma das minhas bandas favoritas. Meu primeiro contato com Resist foi no DVD Rush in Rio (2003), na ocasião o Rush executou uma versão acústica dela, que acho ainda melhor do que a original.

Thiago Costa: Essa musica é de uma sensibilidade incrível, a cada verso que é cantado a musica penetra mais e mais na alma do ouvinte, formigando na cabeça as palavras ditas, chegando até mesmo a ter momentos otimistas. Costumo escutar especialmente quando estou meio para baixo, sempre me ajuda.

Uma parte que gosto é no final da música, quando a letra nos diz: "Você pode se render sem uma oração, mas você nunca pode orar sem se render". Eu particularmente acho essa parte muito forte, se você não entendeu, sugiro que leia novamente esse verso, é a música inteira resumida em poucas palavras. O que eu entendo dele é o seguinte: quando você está só no mundo e não tem mais a quem recorrer para tentar resistir, você deve voltar para dentro de si e arranjar forças para continuar sua jornada, ou como a própria letra continua: "Você pode lutar sem vencer, mas nunca vencerá sem antes lutar".

É com isso em mente que eu convido vocês a apreciarem essa brilhante música. Agradecendo novamente ao Terra pela tradução da letra:




Resist

Eu posso aprender a resistir
À qualquer coisa menos à tentação
Eu posso aprender à co-existir
Com qualquer coisa menos com o medo

Eu posso aprender a entrar em acordo
Com tudo menos com meus desejos
Eu posso aprender a conviver
Com todas as coisas que eu não posso explicar

Eu posso aprender a resistir
À qualquer coisa menos à frustração
Eu posso aprender à persistir
Com qualquer coisa sem grandes objetivos

Eu posso aprender a fechar meus olhos
À qualquer coisa menos à injustiça
Eu posso aprender a conviver
Com todas as coisas que eu não conheço

Você pode se render
Sem uma oração
Mas nunca pode realmente orar
Sem uma rendição
Você pode lutar
Sem nunca vencer
Mas você nunca vencerá
Sem antes lutar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O último voo de uma era


Há exatos 34 anos um acidente de avião dizimou quase por completo uma das melhores bandas que passaram por esse planeta, o Lynyrd Skynyrd. 

O Lynyrd Skynyrd é uma banda de rock sulista (ou do inglês southern rock) formada nos Estados Unidos nos anos 70, o seu estilo ficou bem caracterizado pela junção do rock'n'roll com a música country americana, muito popular.

Apesar do fim da Guerra Civil, o preconceito entre Norte e Sul continuava grande nos Estados Unidos, algo como o que acontece com o Nordeste no Brasil. Em meio a isso, o Lynyrd Skynyrd cantou sobre as belezas do Sul e o seu povo. Não é à toa que a bandeira dos Confederados está sempre presente em seus shows, ao invés da bandeira americana (ou da União). Nesse período a banda lançou grandes clássicos como Sweet Home Alabama, Simple Man e Free Bird, sendo considerado um dos maiores clássicos da era hippie, época do festival Woodstock.

A tragédia que interrompeu a brilhante história do Lynyrd Skynyrd aconteceu uma semana após o lançamento do álbum Street Survivors (1977). O avião que levava o vocalista Ronnie Van Zant,  o guitarrista Steve Gaines e a backing vocal Cassie Gaines, caiu numa floresta na Lousiana, com mais dois integrantes da banda, que sobreviveram ao acidente, o que inclui o guitarrista Gary Rossington. Logo após o acidente a banda acabou e o álbum Street Survivors (1977) foi recolhido. O motivo do recolhimento foi a sua capa, que mostrava todos os integrantes da banda em uma rua em chamas, o que incluía os que morreram no acidente. O álbum foi relançado semanas depois com uma capa diferente, sem as chamas ao fundo.

capa do Street Survivors (1977). Outra curiosidade é que uma chama está envolvendo a cabeça de Steve Gaines (de vermelho) por completo, foi outro motivo para que o álbum fosse recolhido das lojas após o acidente.
capa da versão relançada do Street Survivors (1977). 
Um fato interessante, por assim dizer, acontece quando observamos a história da banda. O álbum Gimme back my Bullets (1976), lançado 1 ano antes do acidente, tem uma música chamada All I Can do is Write About It, uma das minhas músicas favoritas do Lynyrd Skynyrd. Essa música foi escrita por Ronnie Van Zant e fala sobre a vida que ele tinha no interior do Alabama, correndo nos campos e brincando, um grande sentimento de nostalgia. Ele ainda acrescenta que isso tudo estava acabando, porque a urbanização estava chegando ao campo, vagarosamente, mas estava chegando, e o interessante é justamente o refrão da música, onde ele diz: "Eu posso ver o concreto se espalhando devagar, Senhor me tire daqui antes que isso chegue". Coincidência ou não, 1 ano após essa música, aconteceu o acidente que tirou Ronnie Van Zant desse mundo.

A fase Ronnie Van Zant foi excelente, é dela que saem todos os clássicos do Lynyrd Skynyrd. Apesar do encerramento das atividades após o acidente, 10 anos depois, o irmão de Ronnie, Johnny Van Zant, reuniu os antigos membros da banda e colocou o Lynyrd Skynyrd de volta no circuito mundial do rock'n'roll. Vários álbuns foram lançados e novos clássicos surgiram, como Red, White and Blue e The Last Rebel. Apesar de velhos, eles continuam fazendo shows hoje em dia e virão ao Brasil pela primeira vez agora em novembro, de fato uma grande conquista para o nosso país.
Lynyrd Skynyrd com Johnny Van Zant nos vocais. Destaque para Gary Rossington (à direita), único membro da formação original remanescente na banda e sobrevivente do acidente de avião.
Para homenagear essa grande banda, que sempre pregou a liberdade, vamos encerrar essa postagem com o seu maior clássico, Free Bird, relembrando a formação clássica do Lynyrd Skynyrd:

sábado, 15 de outubro de 2011

Dica de álbum: La Renga - Despedazado por mil partes (1996)

capa do Despedazado por mil partes (1996). Um detalhe sobre essa capa é que se virarmos ela ao contrário, a imagem do centro se transformar em um anjo caindo.
Faz tempo que não ponho nenhuma dica de álbum aqui para vocês, então vamos acabar com isso. Estou apresentando uma banda da Argentina que conheci há pouco tempo, o La Renga.

O La Renga faz um hard rock com elementos de blues, o que deixa as músicas com um caráter bem característico. Eles cantam em espanhol, mas isso não é um empecilho para que suas brilhantes letras sejam apreciadas. O Despedazado por mil partes (1996) é o álbum que contém a maior quantidade de músicas importantes para a carreira do La Renga, como La Balada del Diablo Y la Muerte e El Final es en donde Parti, sem falar em Hablando de la Libertad, música obrigatória em qualquer show deles.
La Renga: Chizzo (guitarra), Tete (baixo) e Tanque (bateria). Fazendo menção ainda a Manu (gaita e saxofone).
O Brasil nunca lembrou do La Renga, nem o La Renga lembrou do Brasil. Em mais de 20 anos de carreira, eles nunca vieram por aqui, ficando restrito somente à Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai, onde eles lotam estádios. Está aí o DVD La Renga en El Ojo del Huracan (2006) que não me deixa mentir, onde eles lotaram de fãs o Monumental de Nuñez, estádio do River Plate, em Buenos Aires. Mas, na turnê desse álbum, eles chegaram a fazer shows no México e Estados Unidos, mostrando toda dimensão que eles ganharam, após lançar esse grande trabalho.

Eles não possuem gravadora no Brasil, então encontrar um álbum deles para vender aqui no nosso país é praticamente impossível. Para quem quiser adquirir produtos do La Renga, eu aconselho o Mercado Libre (o Mercado Livre da Argentina). Então, concluindo, para quem gosta de um hard rock bem executado, tenho certeza que vai gostar do La Renga.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Prosa Rock: A Batalha de Gettysburg

A batalha de Gettysburg: União à esquerda e Confederados à direita.
A história é algo que sempre me fascinou, por pouco deixei de cursar Engenharia para poder fazer História. De todos os episódios da história do mundo, um dos meus favoritos é a Guerra Civil nos Estados Unidos, paixão motivada pelos filmes de faroeste e HQ's italianos que marcaram a minha infância.

Após a independência dos EUA, o conflito de interesses entre o lado Norte (União) e Sul (Confederados) do país levou a uma guerra, o que culminou em uma das batalhas mais sangrentas da história, a batalha de Gettysburg.

A grandiosidade desse evento motivou Jon Schaffer, guitarrista e líder do Iced Earth, a contar toda a história de Gettysburg em uma música épica. Os três dias de batalha (de 1 a 3 de julho de 1863) foram resumidos em três atos, totalizando os 33 minutos da música Gettysburg (1863), que faz parte do álbum The Glorious Burden (2004) do Iced Earth.
Jon Schaffer, grande mentor do Iced Earth. Além disso ele é grande fã de História e possui uma loja de antiguidades chamada Spirit of 76, onde vende miniaturas sobre momentos da história, muito interessante.
A viagem por Gettysburg começa por A Devil to Pay, que inicia com o som do hino dos EUA sendo interrompido pelo som dos canhões no campo de batalha. O primeiro dia começou com vitória dos Confederados, que ainda conseguiram eliminar o general John Reynolds do Norte, uma grande perda no fim do dia. O destaque da música vai para as marchas militares da época, que foram transformadas em rock'n'roll orquestrado e incluídas na música, ficaram muito boas.

O segundo ato inicia com Brother Against Brother, uma conversa entre os generais Winfield Hancock e Lewis Armistead, grandes amigos que estavam lutando por lados opostos, um momento muito emocionalmente. O que gosto deste pequeno ato é a passagem: "Se por acaso eu tiver que brandir minha espada contra você, que Deus me mate". O ato continua em Hold at all Costs, a música que mais parece com as composições antigas do Iced Earth, com um refrão excelente. Esse ato foi inteiramente dedicado ao personagem favorito de Jon Schaffer de toda a Guerra Civil, o coronel Joshua Chamberlain. Ele foi um dos responsáveis por conter o ataque dos Confederados, segurando-os a todo custo, como nos diz o título da música.
capa do The Glorious Burden (2004), do Iced Earth.
O terceiro dia de batalha começou com uma chuva de balas de canhão, pelos Confederados. Segundo Abraham Lincoln, presidente da época, ele pôde sentir o chão tremer de dentro da Casa Branca. High Water Mark, terceiro ato de Gettysburg (1863), começa justamente nessa parte, com os canhões dando lugar a uma conversa entre o General Lee e seu subordinado James Longstreet, dos Confederados. Na ocasião eles discutiram um plano de ação arriscado para deter o avanço da União, que ganhara o segundo dia de batalha. O que mais gosto em High Water Mark, além do instrumental, é o final da música. O ato é encerrado com um lamento do General Lee, vendo o campo de batalha com os corpos de seus compatriotas do Sul, onde ele diz: "Eu olho para toda essa terra manchada de sangue, todo o sangue está em minhas mãos, eu fui o responsável, tudo foi minha culpa, o sangue está nas minhas mãos". Essa é a minha parte favorita de toda Gettysburg (1863), é um reconhecimento por tudo aquilo que aconteceu, por toda a grandiosidade da batalha.

Nunca antes na História uma banda dedicou tanto tempo à Gettysburg, foi realmente uma grande homenagem do Iced Earth a esse fato histórico. Além da parte instrumental brilhantemente composta, com orquestra e tudo o mais, o Iced Earth ainda incluiu efeitos sonoros de batalha em algumas partes, deixando a obra ainda mais teatral.
capa do DVD Gettysburg (2005).
Como citado, Gettysburg (1863) faz parte do álbum The Glorious Burden (2004), mas um filme foi feito para ela e lançado em DVD. O DVD Gettysburg (2005) contém o clipe para a música, com 33 minutos de duração, assim também como uma mixagem especial para ela. Além do filme, o DVD também faz uma viagem pelo campo de batalha, em Gettysburg, acompanhado de um guia histórico, fazendo deste item uma verdadeira relíquia para fãs de história também.

Para quem se interessou, abaixo vocês podem escutar Gettysburg (1863), a obra-prima do Iced Earth. A título de curiosidade, esses vídeos foram produzidos com imagens do filme Gettysburg, lançado nos anos 80:

A Devil to Pay:



Hold at all Costs:



High Water Mark:

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Resenha de Shows: Deep Purple (07/10/11 - Fortaleza/CE)

Eu poderia começar essa resenha com uma propaganda da MasterCard. Ingresso R$70,00...traslado Mossoró-Fortaleza R$50,00...reviver o passado pisando na areia da praia...não tem preço.

Era de manhã cedo quando comecei a cansativa viagem de Natal/RN para Mossoró/RN, e logo em seguida, de Mossoró/RN para Fortaleza/CE. Cheguei no início da noite e fiquei aguardando a abertura dos portões junto com todo mundo. O local do show não poderia ser melhor, a Barraca Biruta na Praia do Futuro, pisando na areia e escutando as ondas do mar.

Uma arena foi montada na praia em frente à Barraca Biruta. O que me surpreendeu foi o tamanho da arena e mais ainda, o público presente, que lotou a arena. Eu arrisco dizer que umas 10.000 pessoas estavam presentes para ver as lendas-vivas do Deep Purple executarem os seus clássicos no palco.

A banda República, de São Paulo/SP, abriu a noite executando clássicos do rock'n'roll e músicas próprias. Um show até que legal, se não fossem a quantidade excessiva de covers clichês e a constante lembrança da própria banda de que o Deep Purple tocaria em seguida. Dica do Rock'N'Prosa: "Execute o seu show e não se importe com que vem depois".

Respeitando a pontualidade britânica, exatemente às 23:00 a introdução começa a soar e Ian Pace (bateria), Roger Glover (baixo), Steve Morse (guitarra) e Don Airey (teclado e sintetizador) assumem seus lugares e começam a tocar Highway Star, um grande clássico, com a companhia logo em seguida de Ian Gillan, nos vocais.
Deep Purple no palco.
Logo de início pude constatar que apesar de velhos, eles ainda tem muito rock'n'roll no sangue. As músicas, apesar da voz aparentemente cansada de Ian Gillan, ganharam uma nova atmosfera, dada a habilidade ao vivo da banda. Eu confesso que já escutei muito Deep Purple de estúdio, mas nunca escutei nada ao vivo deles. O que eu vi no show foi algo que beira o fantástico, eles incluíram muitas jams nas músicas, não sei se para dá um descanso aos vocais de Ian Gillan, ou se para complementar ainda mais as músicas.

O show continuou com Hard Lovin' Man e Maybe I'm a Leo, mostrando toda a técnica de Steve Morse na guitarra. E logo em seguida veio mais um clássico, Strange Kind of Woman, para levantar novamente todos os presentes. Apesar de ser uma banda antiga com muitos clássicos, o Deep Purple soube dosar, executando clássicos e novas composições, o que deixou o show interessante, no meu ponto de vista. Um show lotado de clássicos é um show explosivo, um show em que você praticamente não presta atenção na banda porque está cantando as músicas, mas um show como o Deep Purple fez, faz você parar e observar a banda executando as músicas com maestria.

Ainda estiveram presentes Rapture of the Deep, Mary Long (a surpresa da noite) e Contact Lost, seguida de um fantástico solo de guitarra de Steve Morse. Essa foi uma das minhas partes favoritas do show, no final do solo a banda chegou junto e Ian Gillan iniciou When the Blind Man Cries, seguida de uma chuva de aplausos. Após esse clássico a banda ainda executou Lazy e outra pedreira, Knocking at your Back Door, música que depois do show já ficou sendo a minha favorita do Deep Purple, foi muito bem executada.
Don Airey e seu jogo de teclados e sintetizadores, no melhor estilo John Lord.
Logo após a banda executa No One Came e deixa o palco, ficando somente Don Airey, no seu estilo Charles Bronson, imerso no seu universo cheio de teclados e sintetizadores. Ele inicia sua viagem executando clássicos da música como Bach e Vivaldi, chegando até a executar Villa-Lobos. No final do seu solo ele emenda com o grande clássico Perfect Strangers, sendo acompanhado pelo restante da banda, outro grande momento do show. E daí em diante clássicos foi o que não faltou, vieram Space Truckin' e nada mais nada menos que Smoke on the Water, cantada por todos os presentes.

A banda deixa o palco, e com pouco tempo volta para o bis. Após uma breve jam a banda inicia Hush, do Billy Joe Royal, acompanhado por um solo épico de Ian Pace na bateria. Eu confesso que já vi muito baterista veloz, mas nenhum tem a técnica que Ian Pace tem, não tenho palavras para descrever aquilo. Antes de encerrar a noite, todos ainda foram brindados com um solo de baixo de Roger Glover (a simpatia em pessoa, vale salientar) e em seguida Ian Pace puxou Black Night, mais um grande clássico para encerrar de vez esse grande show.
o bom velhinho Roger Glover e Ian Pace, mestre da bateria.
Como falei no início da resenha, a viagem foi cansativa, mas valeu a pena cada kilômetro rodado para assistir o show. Mesmo com mais de 40 anos de carreira, os caras continuam mandando muito bem, e sem contar na oportunidade de poder ver lendas-vivas do rock'n'roll, não é todo dia que isso acontece.

É isso, web-leitores, espero que tenham gostado dessa resenha, e até o nosso próximo show.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pure Rock: Brasil anos 80


Voltando com força total com "Pure Rock" no Rock'N'Prosa, o lugar onde você encontra o rock'n'roll no seu mais alto grau de pureza. Decidi hoje voltar um pouco no tempo e falar sobre o rock no Brasil nos anos 80. Eu não tenho muita autoridade nesse assunto, pois li muito pouco, mas vou usar o pouco que sei para contemplar toda essa geração.

Quando eu penso em rock no Brasil nos anos 80 a primeira coisa que me vem à cabeça é a Ditadura Militar, tema favorito de quase todas as bandas. Então, sem perder tempo, vamos ao nosso "Pure Rock".

#1 - Capital Inicial - Veraneio Vascaína (Capital Inicial, 1986)
Começando logo com o maior clássico da "era militar" no Brasil. Uma música que abertamente critica o comportamento rígido exercido pelos donos do poder, os militares. O nome "Veraneio" está ligado ao veículo utilizado pela polícia da época, fabricado pela Chevrolet e "Vascaína" às cores da mesma (cores do Clube de Regatas Vasco da Gama). O que gosto dessa época é a criatividade das músicas, porque as críticas eram implícitas, nunca eram abertas. Um fato histórico aconteceu em 2008, quando o Capital Inicial realizou um show na Esplanada dos Ministérios, em Brasília/DF, e executou essa música em frente ao mesmo prédio que proibiu a execução dela nas rádios na época. Esse momento foi registrado no DVD Capital Inicial em Brasília (2008): 


#2 - Titãs - Bichos Escrotos (Cabeça Dinossauro, 1986)
Falar de rock brasileiro e não falar de Titãs é o mesmo que falar de futebol e não citar Pelé. A carreira do Titãs nos anos 80 é fantástica, um álbum bom atrás do outro. Nos anos 90 eles não foram tão bons, mas ultimamente têm surpreendido com uma sonoridade voltada para o passado. Bichos Escrotos é uma das minhas favoritas de todas as músicas deles e fala sobre "bichos" que contaminam a sociedade, uma temática bem profunda se formos analisar. Destaque para o épico grito "Vão se f#%$*!!"



#3 - Os Paralamas do Sucesso - Fui eu (O Passo do Lui, 1984)
Mais outra referência do rock nacional nos anos 80. O Paralamas do Sucesso veio com uma abordagem mais "leve", quando comparado com Titãs e Capital Inicial, incorporando um pouco de reggae nas suas músicas. Eles chegaram a tocar no Rock In Rio I, em 1985, o que deu uma grande alavancada na carreira deles. Um acidente quase vitimou o mentor Hebert Viana, mas não foi o suficiente para fazer a banda parar, e eles hoje ainda continuam detonando todo o Brasil com sua excelente música.


#4 - Sepultura - Beneath the Remains (Beneath the Remains, 1989)
Indo para o lado mais pesado do rock nacional, temos o Sepultura, banda que praticamente apresentou o rock brasileiro ao resto do mundo. Beneath the Remains é o título do segundo álbum deles e traz todo o peso e agressividade que deixou a banda famosa em todo o mundo. A formação original hoje não existe mais, mas o Sepultura continua detonando todo o mundo com o seu rock pesado.


#5 - Viper - Living for the Night (Theatre of Fate, 1989)
Encerrando com um dos maiores clássicos do rock pesado nacional. O Viper foi uma banda formada por Pit e Yves Passarell, que hoje estão no Capital Inicial e lançou o grande vocalista André Matos. Os álbuns Solders of Sunrise (1987) e Theatre of Fate (1989) são duas relíquias, com excelentes músicas. Living for the Night é o maior clássico do Viper e música amplamente cantada pelo público quando executada em shows. Nada melhor do que encerrar essa viagem de volta aos anos 80 no Brasil com ela.

Espero que tenham gostado desta viagem, e até o próximo "Pure Rock" com muito mais rock'n'roll. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nando Reis na Terra da Liberdade

Nando Reis.
Voltando para a minha querida cidade-natal sou brindado com mais um show do grande Nando Reis. Após assisti-lo esse ano em Canoa Quebrada/CE (confiram a resenha AQUI), e perder o show em Florianópolis/SC, marquei novamente presença no show do George Harrison brasileiro, mas agora em Mossoró/RN. O show da turnê Bailão do Ruivão foi agora iluminado pelas comemorações da Festa da Liberdade, comemorando a libertação dos escravos da cidade de Mossoró/RN, anos antes da Lei Áurea abolir a escravatura no Brasil. Esse fato foi lembrado por Nando Reis durante todo o show, ressaltando a importância da liberdade nas nossas vidas.
pôster da Festa da Liberdade 2011, em Mossoró/RN.
Para quem se interessou, a Festa da Liberdade acontece todos os anos em Mossoró/RN no final de setembro. Além dos shows diversificados culturalmente, o espetáculo teatral Auto da Liberdade marca presença, contando a história da cidade de Mossoró/RN, muito interessante. Para os fãs de rock'n'roll que ainda não conhecem a cidade, já sabem para onde ir no fim de setembro, vocês não se arrependerão.

Voltando a Nando Reis. A praça de eventos, ao lado da Estação das Artes Eliseu Ventania, em Mossoró/RN, estava tomada por um público de 30.000 pessoas aproximadamente para presenciar esse grande evento. O que mudou do show em Mossoró/RN para o show em Canoa Quebrada/CE foi a maior inclusão de músicas próprias no presente show. Não vou entrar em detalhes sobre o show, mas basta dizer que a abertura ficou por conta de Sou Dela, e também estiveram presentes no set-list Luz dos Olhos, Relicário e All-Star, músicas que ficaram de fora do show em Canoa Quebrada/CE, além das quase obrigatórias Por Onde Andei, Cegos do Castelo e Bichos Escrotos.

Antes do show o Rock'N'Prosa conseguiu bater um rápido papo com Nando Reis, abaixo está a transcrição.
Nando Reis em entrevista ao Rock'N'Prosa. Agradecimentos a Petras Vinicius pela força. (foto: Mais CLICK, por Cláudio Roberto).
RNP: Você recentemente lançou o DVD Bailão do Ruivão, e o interessante desse DVD é a presença de músicas que não são tipicamente rock'n'roll. Esse DVD é uma forma que você achou de tentar quebrar as barreiras entre o rock e a sociedade?

Nando Reis: Nunca tinha pensado por esse ângulo, na verdade eu mesmo não me trato como "roqueiro". Eu acho esse rótulo, ou essa categoria no qual me enquadro, pode servir para analisar o tipo de música que eu faço, mas não o tipo de pessoa que eu sou e nem o tipo de música que eu ouço. E esse disco eu gravei talvez para mostrar justamente que aquilo que eu ouço não se parece necessariamente com o tipo de música que eu faço. Justamente porque a música que eu faço pretende pelo menos ser original.

No final do depoimento ainda recebi um elogio do próprio Nando Reis pela pergunta, nas palavras dele: "Boa pergunta, gostei, tem cada jornalista que me pergunta cada uma". Esqueci de acrescentar para ele que sou um simples engenheiro fã de rock'n'roll. Concluindo, O show foi épico, tão bom quanto o primeiro que eu assisti esse ano. Nando Reis é de fato um dos maiores nomes do rock'n'roll nacional. E fica aqui o agradecimento pela rápida conversa, pelo autógrafo e o principal, pelo show.

Eu não possuo imagens do show, mas quem quiser conferir dê um pulo no álbum oficial do show AQUI.