segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Resenha de shows: Noturnall (Mossoró/RN - 23/11/14)


Fiquei pensando alguns minutos em uma maneira legal de começar essa resenha, mas não veio nenhuma ideia. Gostaria apenas de dizer: Obrigado. Obrigado por difundirem o metal pelo Brasil -- a todo mundo, não só à banda -- e manter viva a cena. Bandas locais, bandas nacionais, bandas gringas, quem quer que vá a qualquer lugar fazer um show, que faça da melhor maneira possível e com amor. Não importa o dia, a quantidade de público presente, a energia do ambiente deve ser a força motriz, assim a música sobrevive e supera as dificuldades.

Foi com esse espírito que acordei no domingo, um dia um pouco atípico para um show, e fui ainda de manhã lá para a sede do motoclube Carcarás do Asfalto, em Mossoró/RN. Como tinha me comprometido, passaria o dia inteiro à disposição da produção do show -- a Detonação Produções. A Detonação está inclusive completando 13 anos de batalha. Como dizem na Formula 1: "keep pushing!!".

Chegando ao local do show, a estrutura de som estava sendo montada. Não demorou muito para o motorhome personalizado do Noturnall aportar por lá. Depois de conversa rápida com Thiago Bianchi -- diga-se de passagem, o pessoal da banda é extremamente simples. Pessoas excelentes -- os roadies (incluo-me nessa também) começaram a montar o palco. A primeira coisa que pensei foi que apenas os "roadies" trabalhariam (o que na verdade só existia um de fato, que era o do Aquiles), mas não, a própria banda estava fixando o pano de fundo, montando o projetor (para o telão), os amplificadores, tudo.
Ônibus da turnê do Noturnall.
Depois de levar a banda para almoçar (ainda nas minhas tarefas de auxiliar de produção) e conversar muito sobre o Shaman e rumos do Noturnall, eis que é chegada a hora do show. Com um pouco de atraso, às 20:30, a Jack the Joker, de Fortaleza/CE, sobe no palco. P%¨$!# 
Jack the Joker.
O show é daquele que dá vontade de xingar mesmo. Que banda massa!! Eu confesso que fiquei com vontade de ir embora depois do show deles, porque o ingresso já tinha sido pago. Habilidade indiscutível dos músicos. Dinâmica perfeita. A banda existe há 2 anos, mas para mim é como se existisse há 10, dado o grau de entrosamento de todos. É um show para ser visto em outra oportunidade, com certeza.

Após uma hora de show, aproximadamente, eis que o telão começa a transmitir a introdução do show do Noturnall. Aquiles Priester assume seu lugar na bateria, Leo Mancini, Fernando Quesada e Juninho Carelli entram no palco e começam a executar Fake Healers, após entrada de Thiago Bianchi. Não era segredo que as músicas executadas no show seriam todas do debut Noturnall (2014), um excelente álbum, trazendo um som bem maduro e pesado. Durante todo o show o telão ficou exibindo os clipes e algumas animações com o nome do Noturnall, e foi assim que o show continuou com Zombies e a faixa de abertura do álbum, No Turn At All. Destaque para a empolgação de Fernando Quesada, o baixista tem uma presença de palco tremenda e está toda hora animando o show. Outro detalhe é o profissionalismo da banda. Fernando estava falando no almoço da falta de público, o que comentei ser fruto da banda ser nova, o que ele concordou. O show no dia anterior em Fortaleza/CE, não tinha sido dos maiores, e em Mossoró/RN, um público aquém do esperado compareceu. As pessoas não sabem o que perderam -- ou o que estavam perdendo --, infelizmente. Mesmo com um público pequeno -- para esses caras que são acostumados a tocar para grandes públicos -- eles animaram o show, interagiram, foi diferente. Tem muita banda -- teoricamente "menor" -- que fica com raiva e não faz um bom show, por causa da falta de público. Não vejo por esse lado, você tem que tocar com a mesma força e vontade seja para 1 pessoa ou para 10.000. 
Noturnall.
Além das músicas do álbum, o show ainda abriu espaços para covers. Foram executadas Inferno Veil (do último álbum -- teórico -- do Shaman, Origins (2010), ex-banda de boa parte do Noturnall), Cowboys from Hell (dispensa apresentações) e Symphony of Destruction (idem). O show abriu espaço para o Psychoctopus Solo, solo de bateria do Aquiles, que, faço minhas as palavras de Neliton Araújo (Pezão) no show: "Eu quero saber que inventou o solo de bateria? Quero dar uma surra nele! Coisa desnecessária!". Realmente, era o Aquiles, um dos melhores do mundo, mas, prefiro ver ele tocando suas próprias músicas do que "endoidando" em um solo de bateria. Digo o mesmo para solo de guitarra, pulo logo para a próxima faixa.

Dando continuidade ao show, o Noturnall executou Hate!, uma das melhores do álbum e uma das melhores do show -- a sonoridade ficou muito melhor ao vivo -- e encerrou o show com o "quase-clássico" (será clássico pela idade daqui a alguns anos) Nocturnall Human Side. Impressionante a sonoridade dela ao vivo, ganhou uma força a mais, um charme a mais, não sei explicar isso. Foi um encerramento à altura para o show, só faltou o Russel Allen para completar a música.
A bateria do Aquiles Priester, no detalhe.
Após o show, toda a banda atendeu aos fãs, ainda conversei com o Léo sobre meu novo amplificador e os seus equipamentos também, só foi uma pena não ter podido ficar mais porque trabalhava cedo no outro dia. Concluindo, o show foi muito bom, valeu a pena cada hora de trabalho e centavo pago no ingresso. Foi uma pena o público não ter prestigiado o show. A banda e, principalmente, a produção do show (dadas as dificuldades de produzir show de rock) mereciam essa parcela de confiança e reconhecimento.

O que fica de desejo é que o Noturnall continue o seu trabalho -- o Fernando inclusive me disse que eles vão gravar próximo ano já outro álbum -- e cresçam ainda mais. O nível da banda é fantástico, os músicos são excelentes, e a qualidade das músicas (pelo menos até agora) não está deixando a desejar. E para a produção, mesmo com o público pequeno, não vamos desanimar e continuar trazendo shows desse porte para Mossoró/RN, a cena local merece, e todos crescem com isso, não só a produção, mas as próprias bandas locais são afetadas positivamente por shows desse tipo.



Set-list NOTURNALL

1.FAKE HEALERS
2.ZOMBIES
3.NO TURN AT ALL
4.INFERNO VEIL (Shaman cover)
5.MASTER OF DECEPTION
6.SUGAR PILL
7.COWBOYS FROM HELL (Pantera cover)
8.ST. TRIGGER
9.PSYCHOCTOPUS SOLO
10.HATE!
11.SYMPHONY OF DESTRUCTION (Megadeth cover)
12.LAST WISH
13.NOCTURNALL HUMAN SIDE

sábado, 15 de novembro de 2014

Perdão, mas é Pink Floyd


Antes de escutar de fato o álbum Endless River (2014) e mesmo depois de ler inúmeras resenhas, formando minha opinião preconceituosa, decidi fazer essa postagem apenas com o que escutei, de propósito.

O Endless River (2014) é um registro histórico, é Pink Floyd, ponto final.

Eu discordo com todas as análises já realizadas do álbum. Antes mesmo de escutar, eu vejo o Endless River (2014) como um álbum que não pode ser resenhado em hipótese alguma. O seu propósito -- pelo menos essa foi a minha impressão -- nunca foi ser o próximo Dark Side of the Moon (1973).

A primeira e única música que escutei do álbum foi a disponibilizada antes do lançamento, como single, Louder Than Words. Recentemente, quando o álbum foi lançado, o vídeo da música também foi disponibilizado. E que vídeo! A sensibilidade na produção foi tremenda, mostrando a capa do álbum -- que diga-se de passagem, uma das mais lindas da história -- e as cenas do (que aparenta ser) o mar Aral, com o seu "cemitério de navios". A junção vídeo-música é fantástica. Não precisava nem existir um álbum, apenas essa música, para me deixar já satisfeito.
Última aparição ao vivo do Pink Floyd, no Live 8, de 2005.
O Endless River (2014) foi composto com trechos de ensaios da época do Division Bell (1994), até então, último álbum do Pink Floyd, contando com as participações de Nick Mason e Rich Wright na banda. Após a morte de Rich, todos os esforços para reunir novamente a banda acabaram enterrados junto com ele, não existia mais chance do Pink Floyd voltar. Esse pelo menos era o meu sentimento. Foi uma grande surpresa o lançamento desse álbum, confesso, mas o conceito por trás dele é o que está valendo mais para mim. As gravações que não entraram para o Division Bell (1994) foram retrabalhadas, aproveitando boa parte dos trechos originais, e transformadas em novas canções, instrumentais em quase sua totalidade. Apesar de não estar vivo, os dedos de Rich Wright estavam ali naquelas gravações, então, não tinha porque não rotular aquele álbum de "Pink Floyd". E foi o que David Gilmour, juntamente com Nick Mason, decidiu fazer. Novamente digo, não escutei o álbum, e isso aqui não é uma resenha.

O que o Endless River (2014) é para mim é mais que um álbum. Não estou olhando para as músicas nem para o seu conceito, mas para o significado do lançamento. São restos de música? Sim. A qualidade pode não estar tão boa quanto os outros? Creio que sim. Mas, como disse no título, é Pink Floyd, amigo!

O lançamento desse álbum proporciona, como o título diz, navegar em um rio sem fim. Como seria isso? Lançando o álbum, nós, como fãs, nos lembramos que existe uma entidade nesse mundo chamada Pink Floyd, que produziu tanto material interessante durante sua trajetória. Esse álbum alimenta a chama da banda nos nossos corações. Além disso, estou olhando para o lado saudosista agora. Eu só tive contato com a banda por volta de 2010, ou seja, não vivi nenhum lançamento deles. O Endless River (2014) proporcionou não só a mim, mas como a muitas outras pessoas, viverem o dia do lançamento de um álbum do Pink Floyd, seja acompanhando a pré-venda, lendo as primeiras resenhas, escutando pela primeira vez os acordes de uma música nova. Não existe emoção maior de ouvir algo novo, que ainda não estava disponível para os ouvidos comuns. Os fãs mais antigos, que viram o lançamento do Dark Side of the Moon (1973) e Wish You Were Here (1975), e tiveram esse sentimento, compartilharam ele hoje com uma legião ainda maior de fãs em todo o mundo.

Portanto, olhando para o álbum, não consigo ter um sentimento diferente desse. Vou escutar o álbum agora, posso não achar bom, posso achar um grande álbum, não tenho certeza, mas esse sentimento que descrevi não vai mudar. Para mim essa é, e sempre será, a melhor parte do Endless River (2014). É Pink Floyd. Nada mais.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Aquilo que um dia acabou


Às vezes eu sento e fico pensando em parar. É um gesto simples, basta abrir a página e fechar o seu acesso. Mas, eu começo a pensar em tudo o que passei com o blog, em como ele me ajudou a passar o tempo, a externar minha opinião. São nessas horas que tiro esse pensamento "excluidor" da cabeça. O ritmo de atualizações não está bom, mas me esforço para voltar ao máximo a publicar. O Rock'N'Prosa não é minha fonte de renda, e nunca será, porque ele começou e sempre será independente. Meu tempo, atualmente, está dividido entre a produção acadêmica -- no meu emprego como professor (e pesquisador) --, produção literária (na minha nova aventura como escritor) e produção musical (com os álbuns vindouros do Godhound, Rentry e Folie a Deux). Com isso tudo o blog acabou por "pagar" um pouco do preço.

Essa enxurrada de projetos acabam por tirar um pouco da criatividade para novas publicações, e acabou que, no meio da escrita dessa postagem surgiu uma ideia para uma publicação.

Durante essa trajetória do rock'n'roll, muitas bandas começaram, tiveram seu auge e simplesmente surgiram. Uma delas voltei a escutar recentemente, depois de muito tempo.

Uma das primeiras bandas que escutei de rock foi o Nevermore. Na época, por volta do início dos anos 2000 -- estou até soando "velho" ao pensar nisso -- eles tinham tudo para ser os herdeiros do legado do rock. O bastão segurado pelos Metallica's e Iron Maiden's certamente seria do Nevermore, era a minha impressão.
Jeff Loomis, a máquina de riffs do Nevermore.
Warrel Dane e sua voz singular.
Escutei muitas vezes o Dead Heart in a Dead World (2000), faixas como Narcosynthesis imbuíram um peso grande na minha formação rock'n'roll, lugar que não tinha espaço -- para quem começa a escutar. Believe in Nothing, "baladinha" e primeira faixa que escutei deles, até hoje é uma das minhas favoritas. E, o que falar da -- mais nova, para mim -- The Heart Collector? Uma faixa completa, por assim dizer, que dá vontade de cantar alto sempre que escuto.

Seguindo mais no tempo, me vejo com o Enemies of Reality (2003), do grande Dalmo, nas minhas mãos. Aquela capa forte, com aqueles vermes saindo da boca da pessoa. Álbum com a mesma linha do antecessor, trazendo peso em Enemies of Reality e a clássica do DVD da Rock Hard, Who Decides. A balada -- marca registrada dos trabalhos do Nevermore -- Tomorrow Turned Into Yesterday também abrilhanta o trabalho.
capa do Enemies of Reality (2003).
Fechando o ciclo, para mim, infelizmente, porque foi justamente o ponto onde perdi contato com eles, vem o This Godless Endeavour (2005). Capa "dark", como é típico, e faixas pesadas, como também é típico. A rápida Born, lembrando os tempos de Narcosynthesis e a emblemática Final Product, com um dos melhores clipes que já vi até hoje.
capa do This Godless Endeavour (2005).
Olhando para a história do Nevermore, sempre achei esse álbum como uma despedida. Logo após seu lançamento veio o esperado DVD The Year of the Voyager (2008), show em casa de show pequena, muito explosivo e recheado de clássicos. Esse DVD, adquirido recentemente, foi o que motivou a minha volta ao Nevermore, desde 2005 eu não ouvia nada a respeito deles e esse produto -- produto final? -- atiçou essa vontade pelo peso de sua música novamente. Vendo hoje o que aconteceu com a banda. eles lançaram o The Obsidian Conspiracy (2010) antes de encerrar de vez as atividades da banda. O guitarrista Jeff Loomis, responsável pelos grandes riffs da banda, foi a mola mestra no processo, ao decidir deixar a banda.

Felizes de nós que acreditamos na imortalidade da música. As ondas sonoras produzidas não podem ser interrompidas, mesmo hoje sem o Nevermore, podemos parar e escutar sua obra, vivenciando esses grandes clássicos. Assim como Alcione mandou não deixarmos o samba morrer, nós, como fãs de música, não devemos deixar o metal morrer. Vida longa à música.

Para celebrar, fiquem com o clipe de Final Product, do This Godless Endeavour (2005).