quinta-feira, 25 de abril de 2013

Nordeste é Brasil


Nesse ano e no passado o Nordeste está passando por uma grande seca, com a chegada, finalmente, das chuvas, o povo que habita o sertão pode voltar a ter esperança. Esperança de plantar, produzir, sobreviver. É como já dizia o velho ditado: "Não existe alegria maior do que chuva no sertão". Ela aumenta a auto-estima das pessoas, traz alegria aos olhos quando vêem os açudes cheios, o mato novamente verde.

Em se tratando de Nordeste, não existe cultura mais rica no mundo. A semente plantada por Patativa do Assaré e cantada por Luiz Gonzaga renderam muitos frutos em diversos ramos da música, inclusive no rock'n'roll. Falar do sertão é falar de raízes, é falar de onde viemos e onde vivemos.

Essa fusão entre Nordeste e rock sempre atiçou minha curiosidade, não é para tanto que ainda pretendo fazer composições nesse sentido. Essa bandeira levantada (principalmente) pelo Zé Ramalho, cativou até o Andreas Kisser, do Sepultura. Além da versão de Dança das Borboletas, composição já conhecida do Zé, a fusão rock e Nordeste foi imortalizada no projeto solo do Andreas Kisser, Hubris I & II (2009), na composição Em Busca do Ouro. Guitarras distorcidas em um universo Nordeste.

Continuando ainda com o nosso profeta, não é verdade quando digo que a fusão do Nordeste com o rock ocorre apenas em um sentido. Zé Ramalho fez uma releitura de uma das minhas músicas favoritas dos Beatles em uma versão forró. Transportando o universo "George Harrison" para o universo "Luiz Gonzaga". Não precisa nem dizer o resultado disso.

Como comecei falando sobre raízes, é para elas que voltamos. Para terminar essa jornada Nordeste-Brasil, vou deixar vocês com o som de um mossoroense, que descobri só recentemente. O trabalho do Artur Soares é riquíssimo musicalmente. Suas composições em Bodoque (2012), conseguiram pegar essa essência do "rock nordestino", juntar a sanfona a um som distorcido leve de guitarra, sem de fato rotular as músicas como "rock". Não é à toa que fiz questão que esse álbum fizesse parte da minha coleção.



É isso, web-leitores, espero que tenham curtido essa pequena jornada pelo universo nordestino.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Papa é Pop


Se você chegou aqui pensando no Engenheiros do Hawaii, desculpe, mas ainda não chegou a hora deles. O Papa Francisco? Também não, apesar de achar ele uma pessoa fantástica e um exemplo a ser seguido. O Papa em questão é o Emeritus, e se achou que era o Bento XVI, também se enganou. 

Toda a mídia especializada já vêm a um tempo falando dos enigmáticos do Ghost (ou Ghost B.C, para os americanos, por enquanto). Confesso que escutei bastante o seu álbum de estréia, Opus Eponymous (2011), mas acabei não escrevendo nada sobre ele. O que mais me surpreendeu no Ghost foi o meu preconceito. Quando vi o cidadão vestido de Papa e com temática satanista, pensei logo em uma banda do mais pesado "brutal extreme black metal of death", mas me surpreendi com o som "Blue Oyster Cult" do álbum de estréia. Sim, todo mundo já sabe quem é o Papa Emeritus, apesar de esconderem sua identidade, mas acho mais legal continuar "sem saber".

O segundo álbum de uma banda é um marco, ainda maior do que o primeiro. Para quem esperava um Ghost mais pesado, 2 anos depois, Infestissumam (2013) calou a boca de todos. Um álbum que musicalmente é fantástico. Não, a banda não estacionou no sucesso do Opus Eponymous (2011), eles expandiram os horizontes.

Eu já escutei esse álbum umas 500 vezes só nessa semana, e até cometi a "loucura" de comprá-lo em vinyl, mesmo sem ter onde tocar (notas do futuro: espero já ter comprado minha vitrola nesse momento). A palavra que melhor define esse álbum é "surpresa". E se você esperava um "heavy metal" (como o Ghost é "erroneamente" taxado), se enganou. O título da postagem não foi em vão, o álbum está uma mistura de rock antigo com pop. Claro que temos um pouco do peso do metal, mas os vocais do Papa Emeritus estão mais "Eric Gloom" (em alusão ao Blue Oyster Cult) do que nunca.
capa do Infestissumam (2013).
Todos os curiosos passaram as últimas semanas escutando Secular Haze e Year Zero, músicas liberadas para audição. Particularmente gostei, mas o melhor estava reservado para o Infestissumam (2013). O que falar da introdução explosiva Infestissumam e de Per Aspera ad Inferi? Músicas que relembram o velho estilo do Ghost e abrem com maestria essa obra. Mas, queria dar uma atenção maior a Ghuleh/Zombie Queen. Essa é para mim a música mais surpreendente do ano, sem sombra de dúvida. Logo de cara, estranhei o Ghost produzir uma música com 7 minutos de duração, a curiosidade começou logo aí. Quando comecei a escutar, pensei estar ouvindo o Pink Floyd, da época do Piper at the Gates of Dawn (1967). O início lento logo pede uma progressão mais pesada, e quando eu achava que eles iam progredir para o mais puro heavy metal, nada disso, entra uma batida "surf music". Confesso que cheguei a aplaudir, não esperava nunca isso. Ficou simplesmente fantástico. Jigolo Har Megido e Body and Blood possuem uma levada mais pop, contrastando uma letra sombria com um instrumental "alegre".

O Ghost, como a mídia disse, passou pelo teste do segundo álbum. A banda veio para ficar. Espero que continuem surpreendendo. Comparando os dois álbuns, no novo álbum os teclados ganharam uma produção especial, eles estão ditando o ritmo das músicas. As guitarras ficaram mais sombrias e o vocal mais limpo e leve, meio que contrastando. A impressão que tive foi que eles não se acomodaram, buscaram evoluir musicalmente. Sei que vai chegar um dia do "unmask" do Ghost, igual ao KISS, mas estou na torcida para não chegue tão cedo.

Para finalizar, o Papa (e súditos) está demonstrando ser um gênio da música. Está sabendo fundir estilos e surpreender musicalmente. Enfim, só me resta dizer: Vida longa ao Ghost.