Por Enaldo Segundo
Desde o dia 29/03/2012 eu busco alguma maneira de descrever o que eu senti das 21:00 até as 00:00 da própria data. Sozinho, encarando a cegueira e ficando surdo, com nada pra me ajudar além de minhas mãos e minha própria cabeça. Lá estava eu.
O dia no RJ era nublado e com muita chuva. Cheguei ao aeroporto do Galeão com sentimentos distintos: empolgado por realizar o sonho de ver um dos maiores espetáculos da terra e um pouco pensativo pela morte do saudoso Millôr Fernandes (faleceu no dia 28/03). Todos os sentimentos em um só dia. Havia algo reservado? Vendo hoje, 9 meses depois, é fácil dizer que sim.
Sempre fui um grande entusiasta do Pink Floyd. Às vezes acho que segui um caminho contrário. A maior parte dos meus amigos são fãs de carteirinha dos Beatles e seus “dissidentes”. No caminho contrário, acabei me apaixonando pelos acordes de David Gilmour, as letras de Roger Waters, o teclado obscuro de Rick Wrigth e o genial desleixo de Nick Manson. Algo que me deixava hipnotizado e eufórico.
Um descanso, um almoço tranquilo, uma tarde ouvindo o The Wall no celular. E finalmente a ida ao Engenhão. Decidi chegar cedo. Fui “premiado” com um Engenhão ainda vazio e sem filas (apesar de até a hora do início do show o evento não ter apresentado nenhum problemas com filas, tudo muito organizado). Desde a entrada no Engenhão algo que me chamou a atenção: som e projetores. Projetores que eu nunca havia visto e com uma qualidade inacreditável. Um sistema de som que me deixaria procurando algo que, de tão real, eu achei que estava sobrevoando o estádio (o som de Helicóptero no início de ‘The Happiest Day of Our Live’).
Com a pontualidade inglesa, ele iniciou o show às 21 horas. Com educação, uma voz feminina ao fundo dizia que “Roger” não tinha problemas com as fotos/filmagens, “Roger” apenas pedia para que os ‘flashes’ das câmeras fossem desligados para que não atrapalhassem as projeções no telão. Bom, estamos no Brasil, ninguém desligou flash nenhum. Felizmente não interferiu no grande espetáculo.
Empolgado, como de costume, ele iniciaria o show vestido de ditador. Luzes, fogos, e o público de aproximadamente 50 mil pessoas iam à loucura. E eu? Eu estava lá. Encantado. Arrepiado. Com lagrimas nos olhos. Sentindo que aquele era o local certo e a hora certa em que eu deveria estar. O som me deixava arrepiado, as projeções me deixavam hipnotizados. Olhava para o lado e as pessoas estavam boquiabertas, outras chorando, outras abraçadas. Para todo aquele público era mesmo “The Happiest Days of Our Lives”. Fotos? Vídeos? E eu lá me lembrei disso. Se em In The Flesh eu estava arrepiado, logo ao começar The Thin Ice, as primeiras lágrimas corriam no rosto. A homenagem a Jean Charles, o “Nem Fudendo” estampado no telão logo após o questionamento em “Mother”: Mother should I trust the government? A emoção transformada em lágrimas na execução de “Vera” e “Bring The Boys Back Home”. A doçura de Comfortably Numb e o seu solo magnífico que ninguém nunca vai executar como David Gilmour. Assim como “Nobody Home”, uma música que poderia definir o que se passava na minha cabeça. São esses alguns sentimentos que eu posso compartilhar com vocês. Quaisquer outras palavras soarão repetitivas. Para o fã do Pink Floyd eu tenho certeza que essas palavras serão suficientes, para quem não é, fica o mistério do que se passa na cabeça de alguém que cresceu ouvindo e sentindo tudo que estes rapazes fizeram pelo rock mundial. No fim do show, o sentimento de “dever cumprido”. Eu tinha uma dívida comigo mesmo. Eu precisava vê-los algum dia. Mesmo que fosse apenas um deles. Mesmo que a banda já tenha acabado há décadas. Mesmo que eu precisasse sacrificar boa parte do meu dinheiro. Tudo que gastei, paguei, valeu a pena. Repetiria se fosse preciso. Loucuras como essa precisam ser mais constantes em um mundo tão previsível.
O público ia deixando o estádio em completa tranquilidade e eu me despedia daquele palco para voltar para a minha cidade e minha rotina. Já estava com saudades daquele dia e nem se passavam 30 minutos que eu havia deixado o Engenhão. Hoje, 9 meses depois, fecho os olhos e imagino o mesmo local. São memórias eternas, algo que eu contarei pros meus filhos, sobrinho e netos. Algo que ninguém poderá tirar de mim.
Foi a realização de um sonho, e mesmo depois dessas linhas ainda é impossível descrever o que eu realmente estava sentindo. O único sentimento que me recordo e que levo até hoje é o de gratidão. Muito obrigado, Roger Waters.
Isso sim é A RESENHA. Grande texto, Segundo. Ficou passando o filme na minha cabeça a cada palavra. Apesar de não poder ter ido ao show, "acabei indo" de tanto vídeo no Youtube que eu assisti.
ResponderExcluirRealmente é uma experiência ímpar, e só a possibilidade de realização de um sonho, não tem preço. Poder ver Comfortably Numb, Simple Man, Wasted Years, Wind of Change, músicas que crescemos escutando, é indescritível.
Obrigado pela oportunidade do Rock'N'Prosa em publicar essa resenha e abrilhantar ainda mais a nossa galeria de shows.