Só agora tirei um tempo para escrever alguns relatos sobre o carnaval. O conceito aplicado ao longo desses anos de "micaretas" pelo Brasil acabou por encontrar um oásis no meio do maciço de Baturité, no Ceará. Enquanto o sul do Brasil é embalado pelo samba, não só no Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP, mas também em Florianópolis/SC, com estruturas de sambódromo para o desfile das escolas de samba, e o nordeste é embalado ao som do axé, encontramos um certo intruso que ganhou vida há 13 anos atrás no meio do clima frio de Guaramiranga/CE.
Sem querer de forma alguma pregar o apartheid mas todos os "não-fãs" de axé pegam suas barracas e mantimentos e quase como em uma romaria, sobem a serra cearense no período do carnaval. Particularmente, nunca tinha ido à Guaramiranga/CE e não tinha noção de como seria tudo.
A cidade respira música. Fui logo recebido por uma fanfarra executando o tema da "Odisséia no espaço", com metais e percussão, andando pelas ruas da cidade. Na outra esquina uma banda de blues começou a executar Tedeschi Trucks Band, enquanto o velho Creedence Clearwater Revival rolava no já considerado clássico, Odilon Bar.
O carnaval é um verdadeiro desfile de tribos. Famílias inteiras andavam pelas ruas, usando como combustível o tradicional chocolate quente de R$9,00 (vale cada centavo), pessoas estampavam seus ídolos no peito, um verdadeiro enxame de camisas de bandas de rock clássicas. O que vi foi que a cidade de Guaramiranga/CE virou um refúgio para todos que querem fugir do padrão tradicional do carnaval brasileiro. Temos lá todos os elementos de qualquer carnaval: música e diversão. Só que no padrão mais aceitável para os "foliões" mais exigentes.
O Festival Jazz & Blues é apenas um extra no meio desse universo do carnaval. A arena montada comporta cerca de 1000 pessoas sentadas. No começo da tarde temos ensaios gratuitos dos artistas da noite, apresentações dos alunos do projeto social, que diga-se de passagem, é muito interessante, terminando com o show "Pôr do Sol". Após o show pago, as portas da casa voltam a se abrir, agora sem cadeiras, para a famosa "jam". Diversos músicos que tocaram no festival sobem ao palco para simplesmente se divertir, tocando clássicos do blues, jazz e até com uma brecha para o rock também, como rolou Led Zeppelin e Beatles em dois dias. Para não dizer que o forró também não tem espaço, Waldonys deu show em seu tributo instrumental ao Luiz Gonzaga.
A conclusão que tiro de tudo isso é que a universalização do carnaval está evidente, você não é mais obrigado a gostar de determinada coisa só porque é a única que existe. O mundo hoje está oferecendo espaço para todos, é só procurarmos o nosso oásis no meio do deserto.
Se você se identificou com tudo isso, reserve seu acampamento, entre na positividade do jazz e do blues (com perdão para o trocadilho) e suba a serra no seu próximo carnaval.
Show já fui e recomendo também.
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