Quase todo mundo sabe que o rock'n'roll em geral é o estilo musical que mais exige habilidade do músico, tanto na parte instrumental quanto nos vocais. E é sobre esse segundo que vamos falar sobre as limitações anatômicas.
A quantidade de agudos, "drives" e guturais presentes nas músicas, que forçam ao máximo o limite vocal do vocalista é enorme no rock. Um fato que observo é que são poucos os vocalistas que conseguem trabalhar isso de forma e chegar ao fim da carreira ainda com a mesma força do começo.
O "vocal" é produzido pelo ar que passa pelas cordas vocais (atenção médicos, me corrijam se estiver errado, por favor). A abertura e fechamento da membrana das cordas vocais provocam os diferentes tipos de frequência que temos na música: agudo e grave. Mas, somente isso não é suficiente, para o vocal sair adequado aos nossos ouvidos, o som passa por um processo de ressonância no palato mole, parte superior interna da nossa boca também. Isso tudo junto com técnicas de respiração, formam a melodia que tanto gostamos de ouvir.
Bruce Dickinson, vocal do Iron Maiden. |
Enfim, voltando ao rock'n'roll, a não aplicação correta das técnicas vocais provoca danos às cordas vocais, e o desgaste provocado pelos anos de "forçada de barra" fazem com que os vocalistas cheguem ao fim de suas carreiras sem a mesma força do começo. O único que vi melhorar ao invés de piorar ao longo dos anos foi o Bruce Dickinson do Iron Maiden, que é uma exceção a toda regra.
Tive toda essa sensação assistindo ao recém-lançado DVD do Stratovarius, Under Flaming Winter Skies (2012). Uma das minhas músicas favoritas é Paradise, música que passei muitos anos escutando no clássico ao vivo Visions of Europe (1998). Pois bem, no novo DVD, o vocalista Timo Kotipelto mostra muita dificuldade em executar essa e outras músicas, devido ao desgaste vocal e à dificuldade natural da música do Stratovarius.
O próprio Europe teve que baixar o tom da afinação dos seus instrumentos para o Joey Tempest cantar as músicas, e músicas como Tomorrow não são mais executadas por causa disso. O Angra recentemente teve que trocar de vocalista, porque Edu Falaschi não conseguia mais cantar nem Carry On, maior clássico da banda. Motivo também que levou o clássico Roy Khan a deixar o Kamelot.
Roy Khan, ex-vocal do Kamelot. |
Essas limitações são ruins, mas só existem duas alternativas: ou a banda deixa de tocar suas músicas clássicas ou troca o vocalista. O que estou observando ultimamente é que as bandas estão optando pela segunda opção. O Angra ainda vai anunciar seu novo vocalista, mas o novo do Kamelot já está em plena atividade, trazendo a banda de volta ao que era antes, na época de ouro de Roy Khan.
Mas, com limitações anatômicas ou não, alguns ainda resistem e resistiram bravamente. Até antes de morrer, Ronnie James Dio cantou com maestria suas músicas e os clássicos do Black Sabbath. Assim como ainda o faz Bruce Dickinson no Iron Maiden, e com certo desconto, Ian Gillan no Deep Purple.
O recado que deixo para nossos vocalistas é que não forcem a voz, cantem aquilo que está no seu alcance e cheguem bem ao fim de carreira. Porque música boa é bom sempre, e ninguém gosta de ver suas bandas favoritas acabando pelas limitações anatômicas. Queremos mais Iron Maidens e Judas Priests no nosso rock'n'roll.